![]()
Às vésperas de qualquer eleição, uma palavra que sempre
vem à tona e está na boca da maioria dos candidatos a cargos é cidadania. O
problema é que o conceito da palavra tem sido desvirtuado e até banalizado.
Se recorrermos à história, veremos que, na Grécia antiga dos grandes
filósofos, eram considerados cidadãos aqueles que estivessem em condições de
opinar sobre os rumos da sociedade. Evidentemente, o conceito foi sendo
enriquecido ao longo dos anos e recebeu importantes contribuições, também dos
pensadores romanos, mas principalmente após a Revolução Francesa e a Independência
dos Estados Unidos da América. Um aspecto, no entanto, está bem claro em
todas estas linhas de pensamento: a cidadania pressupõe participação ativa e
não apenas reativa ou passiva diante da sociedade em que se vive.
Quando trazemos isso para a vida prática, principalmente
falando de eleições, um primeiro pensamento é o de que participar ativamente
é somente ser candidato a algum dos cargos eletivos em disputa. Mas a
cidadania não se resume ao envolvimento com questões partidárias; consiste em
não se omitir diante da participação que pode alterar ou redefinir os rumos
da vida, seja na cidade, no estado ou no país. E esta cidadania tem base na
Bíblia - cristãos devem saber que podem participar da sociedade ao seu redor
e fazer a diferença.
Deus criou as pessoas e as colocou em um contexto social.
Permitiu que se organizassem em grupos, núcleos, famílias e, por fim,
cidades, estados, nações e regiões continentais. E toda essa movimentação
envolve leis, normas, regulamentos, diretrizes e liderança. Essa ideia
permeia toda a Bíblia, mas é especialmente perceptível na peregrinação do
povo de Israel, sob o comando de Moisés e seus sucessores. A sociedade sem
governo, sem direcionamento, sem uma "cabeça" de coordenação não
fazia parte dos planos divinos. É bem verdade que nem sempre Israel possuiu
um rei, mas havia líderes que, sob estrita orientação divina, conduziram o
povo em relação aos aspectos civil, militar e religioso. Diante dessa
realidade e do que a Bíblia e os escritos inspirados de Ellen White afirmam,
o que significa ser cidadão cristão?
Cristãos têm compromissos éticos e morais - Em Mateus
5:14, é dito que "vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma
cidade edificada sobre um monte" (Almeida Edição Contemporânea).
Honestidade, bondade e humildade no trabalho, nos estudos e na vida
particular, motivados por amor a Deus, são fortes argumentos a favor da
cidadania cristã. Se um cristão revelar, em seu estilo de vida, os princípios
pregados por Jesus Cristo e sintetizados em trechos, como o sermão do monte,
dará uma relevante contribuição para uma sociedade melhor. O exemplo aliado
ao discurso tem força. A ética cristã, se vista de forma pragmática, fala
muito mais do que as palavras. Se existem políticos corruptos que ocupam
cargos importantes é porque grande parte das pessoas os escolheu. Os líderes
refletem, muitas vezes, seus liderados e as respectivas escolhas feitas.
Daniel e José, personagens bíblicos que não foram eleitos por voto, mas se
tornaram influentes na atmosfera política do Egito e da Babilônia antigos,
são boas referências. Trabalharam com foco e se tornarem boas influências, a
despeito das adversidades encontradas, como o paganismo, a sensualidade
barata e a ganância dos imperadores. Egito e Babilônia tiveram êxito no
período em que os dois administradores cristãos estiveram à frente dos
negócios reais. E, acima de tudo, suas realizações foram marcadas por uma
decidida dependência de Deus e apego aos princípios, sem prejuízo ou ataque
aos inimigos.
Cristãos devem votar em candidatos com princípios - Em
obediência às leis, os cristãos, bem como as demais pessoas de outras crenças
ou mesmo as que se consideram sem crenças, são obrigados a votar no Brasil. O
respeito às autoridades constituídas é bíblico (Romanos 13: 1,2), desde que estas
não se coloquem contra princípios de Deus. Isso, no entanto, não exime os
cidadãos cristãos de votarem com consciência social e espiritual. Ellen
White, escritora norte-americana que os adventistas consideram inspirada
divinamente, diz, no livro Fundamentos da educação cristã, à página 475, que
"o Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses
assuntos, o silêncio é eloquência. Cristo convida Seus seguidores a chegarem
à unidade nos puros princípios evangélicos que são positivamente revelados na
Palavra de Deus." A afirmação é forte e certeira no sentido de não
basearmos as esperanças na política secular e nem nos partidos políticos,
tampouco colocar as questões políticas e partidárias como prioridade de vida.
realmente neles não reside esperança para uma vida melhor, mas somente em
Deus.
Por outro lado, a respeito do dever cidadão, Ellen White
também deixou registrado, no livro Obreiros evangélicos, página 387, que
"todo indivíduo exerce uma influência na sociedade. Em nossa terra
favorecida, todo eleitor tem de certo modo voz em decidir que espécie de leis
hão de reger a nação. Não deviam sua influência e voto ser postos do lado da
temperança e da virtude?" Em entrevista a uma revista, o Dr. John Graz,
da Associação Internacional de Liberdade Religiosa, comenta esse texto e diz
que "os valores cristãos devem ser partilhados, promovidos e protegidos.
Quando um programa político está em oposição aos valores cristãos, como
justiça, temperança, liberdade e separação entre igreja e estado, o cidadão
adventista tem que acompanhar sua tarefa de acordo com suas crenças e
consciência. Recusar votar não é uma forma eficaz de contribuir para uma
sociedade melhor. Algumas leis e programas políticos podem ter resultados
muito negativos."
Finalmente, os cristãos têm um importante papel a
desempenhar neste mundo sob o ponto de vista da melhoria da sociedade na
saúde, no meio ambiente, na segurança, na educação, na família e nas
liberdades de expressão, no culto etc. São áreas em que os políticos profissionais
cansam de prometer melhorias, mas que se percebe pouco avanço. Com exemplo
prático de vida, voto consciente (não vendido ou cedido por interesses
mesquinhos e pessoais) e envolvimento em causas humanitárias, os cristãos
podem ajudar a diminuir o sofrimento deste mundo. Evidentemente, para quem lê
a Bíblia com mais profundidade, sabe que o destino final deste planeta está
na volta de Jesus Cristo e não no êxito dos governos deste século. Claro é o
texto do apóstolo Paulo, na carta ao jovem pastor Tito, no capítulo 2 e
versículos 11 a 13. Ali está escrito que "pois a graça de Deus se
manifestou, trazendo salvação a todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a
impiedade e as paixões mundanas, para que vivamos neste presente século
sóbria, justa e piedosamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o
aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo"
(Almeida Edição Contemporânea).
![]()
Felipe Lemos
|
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Cidadania cristã, antídoto à má política
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário